A Copel tem um novo dono e não é o povo paranaense

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Ações compradas por um único investidor valem mais que o dobro do que a empresa foi vendida

POR ARILSON CHIORATO | PRESIDENTE ESTADUAL DO PT-PARANÁ

A Copel tem um novo dono e não é mais o povo do Paraná. Na semana passada, a empresa informou que apenas um investidor comprou 560.600 (quinhentas e sessenta mil e seiscentas) ações da companhia de energia paranaense. Isso equivale a 17,9% das ações preferenciais da Classe “A”. Para se ter uma ideia, o Estado do Paraná detém 358.563 ações (trezentos e cinquenta e oito mil e trezentas e sessenta e três ações), equivalente a 15,9%. Pasmem! As ações foram compradas ao custo de R$ 7 bilhões, mais que o dobro pago pela Copel em agosto de 2023, quando foi entregue a preço de banana ao mercado financeiro.

O anúncio das ações bilionárias e, agora, valorizadas pelo mesmo mercado financeiro tem algumas “coincidências”, outras curiosidades e uma certeza: os paranaenses vão sair perdendo. Aliás, os serviços seguem em franca derrocada, só as ações seguem valorizadas.

Vamos às coincidências. A “primeira coincidência” aconteceu no fim de fevereiro quando o presidente da Copel, Daniel Pimentel, indicado e mantido no cargo pelo governador Ratinho Junior (PSD), comunicou ao mercado que a empresa ia pedir aumentos de tarifas nos próximos anos. Além disso, também aconteceria aumento da distribuição de lucros.

A “segunda coincidência” é que o anúncio à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) da venda de ações aconteceu dias após a Copel anunciar sua nova política de dividendos em que o mercado financeiro é ainda mais beneficiado com a distribuição dos lucros. Em 9 de maio, em “Fato Relevante – 02/25 – Estrutura Ótima de Capital e Nova Política de Dividendos”, a Copel formalizou que a distribuição de lucros saltaria de 50% para 75%. Ou seja, quem tem ações da Copel vai se beneficiar ainda mais.

É neste cenário que dias depois, curiosamente, o investidor Victor Adler, um dos proprietários da Eternit (ETER3) e que fez aportes significativos na OI (OIBR4) e Unipar (UNIP6), comprou 560.600 ações ao custo de incríveis R$ 7 bilhões. O valor é mais do que o dobro da privatização da Copel ocorrida em agosto de 2023, quando Ratinho Junior vendeu o patrimônio dos paranaenses por R$ 3,1 bilhões. Naquela época, é bom lembrar, o Paraná possuía 31.1% das ações. Ou seja, Ratinho, além de privatizador, é, no mínimo, um péssimo vendedor.

Por outro lado, é fundamental destacar que mesmo tendo menos ações do que uma única pessoa, Ratinho Junior e companhia tem imensa responsabilidade pela qualidade do serviço prestado e também pelo preço da tarifa. Isso porque a Lei número 21.272/2022 que autorizou a venda da Copel – e que votamos contra – tem um artigo que garante um “golden share” ao estado e outro que limita os votos a 10%.

Diz a lei que é proibido a “qualquer acionista ou grupo de acionistas exerça votos em número superior a 10% (dez por cento) da quantidade de ações em que se dividir o capital votante da Copel”. Definiu ainda a criação de uma “classe especial que conferirá o poder de veto nas deliberações da assembleia geral”, principalmente relacionado a revisão tarifária.

Infelizmente, a Copel não pertence mais ao povo do Paraná e, cada vez mais, a sua atuação não atende aos interesses públicos. Mesmo assim, seguiremos fiscalizando a empresa e cobrando a melhoria da qualidade do serviço e questionando aumentos na conta de luz dos paranaenses. Para nós, a Copel continua um patrimônio valioso, a diferença é que agora o mercado financeiro disse isso abertamente, após abocanhar uma empresa sólida, superavitária e estratégica para o crescimento do Paraná.


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