Especialistas em ciclismo ouvidos pelo TNOnline alertam sobre os riscos de pedalar no “vácuo” de veículos em rodovias, como fez um atleta filmado logo atrás de um caminhão a mais de 100 km/h, na BR-369, entre Apucarana e Arapongas, no norte do Paraná. No vídeo, o homem aparece praticando “drafting”, estratégia que consiste em pedalar atrás de outro atleta ou veículo para reduzir a resistência do ar. Especialistas garantem que a técnica favorece a economia de energia e ganho de vantagem competitiva, entretanto, deve ser realizada em extrema segurança para evitar acidentes.
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O treinador esportivo Jhony Almeida, de Apucarana, alerta sobre os riscos “drafting”, especialmente quando realizado de forma irregular, como mostrado no vídeo. A prática quando feita sem consentimento do motorista, em vias públicas movimentadas e sem sinalização adequada, coloca em risco a vida do ciclista e de outros usuários.
No entanto, Almeida afirma que o treinamento em vácuo pode ser realizado de forma segura e sistematizada. Isso ocorre em ambientes controlados, como pistas de ciclismo oval, ou em rodovias com fluxo de veículos menor e sinalização adequada. Nesse tipo de treinamento, geralmente há um carro ou moto na frente e outro atrás do pelotão de ciclistas, com pisca-alerta ligado para alertar os usuários da via.
“Nós temos duas vertentes diferentes. Um é um treinamento sistematizado, com uma equipe para garantir toda segurança dos atletas e das pessoas que estão na via. O outro é esse tipo de situação do vácuo sem o consentimento do motorista, colocando em risco a vida tanto do atleta quanto das demais pessoas”, reitera.
O ciclista Edinaldo de Souza também concorda que a atitude do atleta que aparece no vídeo foi irresponsável, entretanto, também chama a atenção para a velocidade atingida pelo caminhão, sendo que o limite máximo é de 90 km/h para veículos de carga na rodovia.
“É uma irresponsabilidade tanto do atleta, correndo risco de bater em uma pedra, bicho ou de ser atropelado. E o caminhão trafegando a mais de 100 km/h. São duas pessoas que ultrapassaram os limites. Eu não faria isso, pelos vários riscos que podem acontecer”, afirma.
Rafael Pattero também ressalta a periculosidade da manobra, que segundo, ele é bastante utilizada entre ciclistas. “Os ciclistas fazem isso para aumentar o estimulo de força, pois aumenta muito a potência no pedal para se manter no vácuo, simulando o ritmo de prova. Mas é uma manobra muito perigosa”, reitera.
Prática é ilegal, segundo MTB Apucarana
Representante do MTB Apucarana, Wilton Vilela Guimarães, não incentiva a prática de vácuo em rodovias, o qual ele considera ilegal. “Nesse esquema que foi feito, esse atleta está correndo um risco. Por exemplo, se o caminhão freia ou passa num buraco e ele tá atrás, ele pode cair. Então, mesmo que seja um atleta de alto rendimento, alta performance, com nível bom de experiência, ele ainda corre risco. Não incentivamos isso e se tiver algum atleta nosso fazendo alguma coisa dessa, a gente chama atenção, porque está sujando a imagem do grupo”, salienta.
Rodovias sem estrutura
O ciclista Edinaldo de Souza critica a falta de estrutura das estradas para os atletas de ciclismo. Ele destaca que as estradas são inadequadas para a prática do esporte e que os atletas são forçados a realizar treinamentos irregulares para alcançar um ritmo de pedal mais forte. Edinaldo também lamenta a falta de apoio de empresas e prefeituras para os atletas de ciclismo e reclama que as ciclovias estão sendo usadas por pedestres, atrapalhando a circulação de bicicletas.
Ele destaca a necessidade de conscientização da população sobre o uso adequado das ciclovias. “É fundamental investir em infraestrutura e apoio para os atletas de ciclismo, garantindo que eles tenham condições seguras e adequadas para treinar e competir. Além disso, é importante promover a conscientização sobre o uso responsável das ciclovias e estradas”, enfatiza.